quarta-feira, 26 de setembro de 2012

(In) FELIZ (mente)

Ai que saudade dos tempos bossais e bucólicos. Que saudade de Bukowski descendo palavrões e a galera vibrando. Que tórrida essa minha vida. Tenho que ser pura, correta, forte, batalhadora. Não posso adoecer, tenho que paparicar os colegas de trabalho e sorrir pra patricinha que fala besteira demais. Não posso chingar, muito menos me estressar, porque ali é todo mundo melhor que eu.
Tal que, pra começo de história, eu sou a ovelha negra do lugar. Todo mundo com papai e mamãe, empregada pra levar água na cama, seu carro pra passear. Eu morando só, chegando meio-dia pra fazer almoço pras irmãs mais novas e apanhando com o rodoviária e planalto uruguai/shopping. Já imaginaram o cenário?
Preocupações de todo tipo. "Oh que minha mãe é muito ingrata, comprou pro meu irmão e não pra mim''; "Ah que a empregada passou mal a camisa, e eu tive que vim mesmo assim. Que vergonha.".
Eu estou esgostada. Por perceber o tipo de pessoa que existe nesse atmosfera. Que precisa ir com alguém no fórum, porque não conhece o palácio do Karnak. Que porque adora pagode, e a rodinha social também, considera rock um estilo musical limitado no PAÍS INTEIRO. Que acha que a maior preocupação é a boate no fim de semana.
Enquanto eu me apavoro com começo de mês, porque sei que tenho que pagar as contas; que o meu fim de semana se ressume a arrumar a casa,  lavar minhas roupas e tentar descansar, porque durante a semana eu não tenho tempo; que por chegar com as mãos fedendo de água sanitária por não ter empregada para me ajudar na casa, eu não tenho higiene; que se eu perder o ônibus das 7:30, vou chegar no escritório atrasada e levar esporro do chefe, lembrando que o horário é 8 hrs.
Enquanto acontece isso tudo, eu me pergunto todo-santo-dia onde eu trabalho. Onde todo mundo lá é melhor do que eu, porque não sou filha de ninguém famoso, nem meu pai tem dinheiro no banco. Porque o motivo de eu não ter um carro, me faz uma estagiária menos eficiente, pois o tempo que o ônibus gasta não chega nem perto.
Eu me padeço e sou inferiorizada tantas vezes que nem sei mais. É uma luta diária tão árdua, que vale até mais que o aprendizado que eu tenho. Aprender a se segurar. Aprender a sorrir quando é humilhada. Só me pergunto se isso tudo acaba valendo a pena. Se isso me deixa uma pessoa melhor, ou pior. Não sei. Mas como eu conto as horas de finalmente me formar.